Hoje fui encontrar uma amiga que conheci nos meus 40. Fazia um tempinho que não nos víamos, quase um mês.
Uma coisa interessante que percebi foi que nós duas temos uma necessidade de relações mais profundas e abertas quando o tema é amizade.
Não gostamos de regras muito rígidas. Não precisa dizer que é melhor amiga, não precisa ir no aniversário, não precisa chegar na hora, pode até cancelar no dia, mas é tudo para que umas coisas fundamentais como equidade, lealdade e deboche permaneçam inegociáveis.
E só estou escrevendo isso aqui agora porque passamos um bom tempo analisando o assunto. Um momento muito meta da nossa parte.
Nos meus 30 anos, juro, achava que todo mundo por quem sentia um carinho especial e tinha algum tipo de interação mais frequente já era amigo\a. A colega do WhatsApp? Amiga. A conexão no Instagram? Amiga também. Eu era, honestamente, muito “xóvem”. Mas, aos 40, eventualmente, precisei repensar o que realmente constitui uma amizade para mim.
A idade trouxe mais clareza, mas o que realmente mexeu comigo foi a distância: estar longe das amigas originais que ficaram no Rio. Eu me vi obrigada a começar a pensar:
“Como sustentar essas amizades com um oceano entre a gente?” e “Como construir novas amizades para viver algo presencial num país novo?”
Nessa sacudida do destino acabei formando novas amizades nos meus 40, e essa amiga foi uma delas.
No meio do caminho, contudo, teve muito coleguismo e networking que, por falta de experiência, talvez por estar sem bases, sensível, carente, tratei como algo que não era.
Equidade
Nos últimos anos, tenho pensado nisso: o que faz uma relação deixar de ser superficial para se tornar uma amizade? Onde está essa linha tênue?
Acho que equidade é um ponto forte. Como diria a minha avó: “Um pouco nós, um pouco ao vosso reino.” Não estou falando daquela troca meio infantil do tipo “te visitei, agora é sua vez”. Isso é bobagem.
Uma amizade profunda exige tanta entrega — e constância. São tantos segredos divididos, tanta escuta e tanta partilha que, se não houver um fluxo generoso, não funciona.
Como disse, não me refiro a equilíbrio no estilo 50/50 — a vida não é justa, nem equilibrada. Falo de algo mais orgânico: “essa semana eu dou mais, porque sei que na próxima, se for preciso, você segura as pontas por mim”. E vice-versa.
É como uma plantinha que tento regar, nem que seja simbolicamente, a cada semana. Às vezes é um áudio de dez minutos (quase um podcast), uma foto que virou risada. O adubo da amizade varia, mas precisa existir — eita, as metáforas jardineira.
Mas eu tenho uns requisitos, sim. Vou abrir o jogo aqui:
Se não puder, de tempos em tempos, ligar para a amiga, mesmo que seja algo combinado com antecedência - nosso momento de rir, desabafar ou tomar um cafezinho virtual — esquece. Essa amizade não vai florescer. Isso é o mínimo que preciso.
Eu também não gosto de ficar só nos áudios de whatsapp. Sempre fico com a sensação de que serão repassados e mostrados para quem não deve, então não curto para contar as baixarias da minha vida ordinária.
Para encerrar, acho que tem que existir algum esforço e sonho de encontro presencial (one to one, claro). Mesmo que bianual, trianual. Se não houver a vontade de abraçar, de sentar junto numa mesa, nem vejo muito propósito.
Por outro lado, não espere que eu esteja disponível toda semana, todo mês, como se fosse minha obrigação largar tudo pra tomar cafezinhos erráticos. Porque não vou.
Enfim amizade, pra mim, é isso: afeto com intenção. Espaço com compromisso. Frequência possível, mas com intenção. Se a gente consegue isso, então acho que dá pra dizer que somos, sim, amigas ou amigos de verdade.
Ps.: a lealdade e o deboche fica para amanhã porque já escrevi muito.